A Evolução é Falsa Porque sua Descrição é Tautológica?
Algumas pessoas alegam que a “sobrevivência do mais apto” é uma tautologia vazia porque o mais apto é definido como “aquele que sobrevive”, nos deixando com o raciocínio circular de “a sobrevivência daqueles que sobrevivem”. Longe de ser vazia, essa parte da teoria de Darwin faz previsões substantivas, repetitivas e testáveis sobre eventos no mundo real.
Sobrevivência do mais apto (SdA) é testável
Criacionistas normalmente usam o argumento da tautologia da seguinte forma: A teoria da evolução é construída ao redor da frase “Sobrevivência do mais Apto” (SdA), mas uma vez que a única medida de aptidão é a taxa de sobrevivência, essa frase é reduzida para a “Sobrevivência dos sobreviventes” que é circular e portanto uma tautologia. Entretanto, ao examinarmos esse argumento, vemos que ele é um ataque somente contra a formulação da expressão usada para descrever um dos conceitos centrais da evolução. Ele não é um desafio ao fenômeno observável que a SdA se refere.
SdA refere-se ao fato de que dado um certo regime seletivo no mundo real, a população tenderá a evolução na mesma direção de novo e de novo, e muitas vezes nós podemos prever com antecedência qual será a resposta. Por exemplo, mariposas pretas irá aumentar em frequência se as árvores forem escuras, e mariposas cinzas irão aumentar em frequência se as árvores forem cobertas de líquen cinza. Não é somente “o que sobrevive sobrevive”; e sim que características em particular são preservadas dependendo do ambiente. Logo, SdA não é uma expressão vazia, é uma descrição dos eventos no mundo real.
Introdução Histórica do Argumento Tautológico
O argumento tautológico surgiu de uma mudança feita por Darwin entre a quarta[1] e quinta[2] edições do seu livro “A Origem das Espécies”. Ele mudou o título do quarto capítulo de “SELEÇÃO NATURAL” para “SELEÇÃO NATURAL; OU S SOBREVIVÊNCIA DO MAIS APTO” (SdA). Ele escreveu: “Essa preservação de variações favoráveis, e a destruição é variantes prejudiciárias, eu chamo de Seleção Natural, ou a Sobrevivência do mais Apto”, e subsequentemente uso os dois termos como sinônimos.
Em 1879 Samuel Butler[3] acusou a seleção natural de ser um “truísmo”, levando a um foco na frase SdA e a afirmação de que, como as taxas de sobrevivência definem a aptidão, mais “aptos” não tem força e portanto a seleção natural e consequentemente toda a teoria da evolução não explica nada.
Uma versão recente do argumento tautológico foi feita por Ann Coulter que disse:
A segunda ponta da “teoria” de Darwin é geralmente nada mais do que uma declaração circular: Através do processo da seleção natural, os “aptos” sobrevivem. Quem são os “aptos”? Aqueles que sobrevivem! Ora veja - isso acontece o tempo todo! A “sobrevivência do mais apto” seria uma piada se não fosse parte do sistema de crença de um culto fanático que infesta a Comunidade Científica. A beleza de ter uma teoria científica que é uma tautologia é que ela não pode ser refutada. [4]
A Maioria dos Criacionistas Concorda que os mais Aptos Sobrevivem
Note que o argumeto citado anteriormente caracteriza como uma “piada” a ideia de que os mais bem adaptados (aptos) são os que geram mais prole. Então o que os criacionistas propõem como uma alterantiva? - Que são os pais piores adaptados que são os mais férteis; que é a raposa ártica com o pelo menos denso que o pai de mais filhotes geração após geração?
Não, aparentemente não; Coulter como muitos outros fundamentalistas, aceita que tais adaptações ocorrem, mas nega que adaptações abaixo do nível de espécie (microevolução) é realmente evolução. Ela diz:
Seleção natural nunca foi demonstrada como fonte de mudança de nada mais sofisticada do que o formato de um bico de pássaro.[5]
Evolução não é a capacidade de bactérias em desenvolver resistência a antibióticos, mas que nunca evoluí em qualquer coisa a não ser uma bactéria. Evolução não é o fenômeno de uma espécia existente transformando-se ao longo de muitos anos, por exemplo.[6]
Tais comentários revelam um contradição. SdA refere-se somente a um elemento da evolução - o processo de seleção - e não a toda a teoria. SdA não se refere a nenhum aspecto de “macroevolução”; ou a criação de novas espécies, ou da árvore da descedência comum gerada pela especiação, ou das características aninhadas dentro da árvore; nem se refere as mutações que causam variação. Supondo-se que Coulter, assim como muitos criacionistas, acreditam que todas as características estão precarregadas dentro do genoma propositalmente ela também claramente sabe que as espécie podem mudar em resposta a mudanças no seu ambiente. Mas tais mudanças (como o formato de bicos em resposta a alterações de circunstâncias ambientais) são exatamente a parte da evolução que SdA descreve! Então porque os criacionistas estão argumento que a posição que eles mesmo aceitam é uma “piada”? Pode ser que eles não entendem o argumento?
Sobrevivência Devido a Características Específicas
O argumento de Coulter pergunta: ‘Quem são os “aptos”? Aqueles que sobrevivem!’, aparentemente uma variante da “sobrevivência do que sobrevivem”, mas não são indivíduos abstratos que sobrevivem, mas indivíduos com características hereditárias específicas. Essas características ocasionam uma melhoria na sobrevivência de formas que podem ser previsíveis e testáveis.
Características hereditárias específicas podem incluir:
- Sensibilidade visual para o amarelo
- pelo mais grosso
- penas de cauda mais longas
Não existe simplesmente nada tautológico (no sentido circular) sobre a sobrevivência de penas de cauda longas. Essa “aptidão” que se refere a características específicas é o ponto principal para entender que SdA não é de forma alguma uma tautologia, porque através da observação nós podemos, por exemplo, estabelecer que as raposas árticas com o pelo mais denso sobrevivem para passar suas características para a próxima geração. Similarmente em um ambiente em mudança, podemos notar que nos anos mais secos os fringilídeos com os bicos mais fortes sobrevivem, enquanto que nos anos mais úmidos aqueles com os bicos mais longos são mantidos. Logo, exemplos de SdA são claramente respostas a um mundo em constante mudança, e repetidas falhas em ver as reações obvias, refutariam a SdA.
Algumas vezes a sobrevivência não é determinada pela aptidão
Outro problema com o argumento de Coulter é que ele implica completa equivalência entre sobrevivência e aptidão. “Quem é o apto”? Aquele que sobrevive! Ora veja - isso acontece o tempo todo! (enfase adicionada). Se isso fosse verdade, então toda a sobrevivência diferencial seria necessariamente seleção. Mas nós temos um nome para sobrevivência diferencial que não é seleção; que é chamada de deriva deriva genética (basicamente, mudanças no pool genético de uma população devido ao acaso). E na verdade nos podemos com certa frequência, realizar testes que distinguem entre seleção e deriva. Nós não poderíamos fazer isso se a seleção fosse somente “aqueles que sobrevivem”.
O argumento tautológico é um ataque contra a formulação da expressão, não contra sua substância.
O argumento tautológico contra a “Sobrevivência do mais Apto” é direcionado contra a formulação da frase, e não a teoria que ela descreve. Darwin havia sido criticado anteriormente pelo uso das palavras “Seleção Natural” quando usadas para resumir sua ideia central. Como resposta, ele escreveu:
Outros objetaram que o termo seleção implica escolha consciente nos animais que são modificados; e até foi alegado que, como as plantas não tem volição, a seleção natural não se aplica a elas! No sentido literal da palavra, sem dúvida, a seleção natural é um termo impróprio. mas quem jamais objetou que os químicos falassem das afinidades eletivas dos vários elementos? - e, no entanto, não se pode dizer estritamente que um ácido escolha a base com a qual se combinará de preferência. Já que foi dito que falo da seleção natural como um poder ou Divindade ativa; mas quem se opõe a um autor falando que a atração da gravidade é o que controla os movimentos dos plantas? Todos sabemos o que querem dizer e o significado implícito de tais expressões metafóricas; e elas são necessária para propósitos de brevidade. [7]
Então parece completamente possível que Darwin teria concordado que SdA é, no sentido literal, um “termo impróprio”, ou uma “frase falsa”, mas ele bem sabia que ela é somente um rótulo descritivo ou resumo sugestivo que se refere a uma parte de sua teoria.
Resumo
- A Sobrevivência do mais Apto (SdA) não incluí muitos aspectos chave da evolução, como descendência comum, hierarquia aninhada, mutações ou especiação. O que a SdA incluí é normalmente aceita pela maioria dos criacionistas como parte da “microevolução”. Então porque eles estão atacando uma parte da evolução que muitos deles parecem concordar?
- Na SdA, aptidão não pode ser equivalente a sobrevivência porque características geradas por deriva também sobrevivem, logo SdA não pode ser uma tautologia.
- SdA foi usada com a intenção de ser um sinônimo da Seleção Natural (SN), mas a SN claramente não é uma tautologia
- SdA é um rótulo descritivo que se refere a uma parte da teoria de Darwin. Atacar um rótulo não compromete a teoria em si.
- Aptidão se refere a características específicas, e não a uma generalidade desconhecida e abstrata, e portanto pode ser testada no mundo real. Não existe nada tautologia acerca da sobrevivência pelo mais comprido, as maiores penas de cauda, ou coloração da casca de uma árvore.
- SdA gera resultados que normalmente podem prever eventos futuros no mundo real, como o resultado de novos experimentos, e portanto não são somente palavras vazias.
Referências
- Darwin, Charles, 1866. "ON THE ORIGIN OF SPECIES", Fourth Edition. London, John Murray, pág. 90
- Darwin, Charles, 1869. "ON THE ORIGIN OF SPECIES", Fifth Edition. London, John Murray, pág. 91
- Butler, Samuel, 1879 "Evolution, Old and New", Hardwicke And Bogue pág. 351 (first use must have been earlier since Darwin's colleague Alfred Russel Wallace was defending against the charge in 1873.)
- Coulter, Ann, 2007. "Godless: The Church of Liberalism". Random House Inc. pág. 212-213, ISBN 978-1-4000-5421-3
- Ibid., pág. 209.
- Ibid., pág. 202.
- Darwin, 1866., pág. 91-92.
Artigo traduzido livremente do original Is Evolution False because its Description is a Tautology? do site Talk Origins.